Esta é a primeira de duas partes de um texto do Swami Niranjanananda Saraswati, sobre os Koshas, os cinco véus ou camadas que constituem o corpo (no sentido mais amplo da palavra) humano. As notas e os parênteses em itálico são do tradutor.

Os Koshas

O yoga, diz que há cinco dimensões conhecidas como koshas ou véus. A experiência e conhecimento dos koshas ajuda-nos a conhecer a profundidade da mente humana e em última instância, a compreender o estado de dhyana, a meditação.

Annamaya Kosha

A primeira dimensão é o corpo material, annamaya kosha. Anna significa ‘alimento’, ‘matéria manifestada’; maya, neste contexto, significa ‘cheio de’. Não há milagre maior do que o corpo humano. Apesar de, do ponto de vista da ciência, olharmos para o corpo físico-denso como um conjunto de diferentes sistemas que controlam as funções corporais, o yoga diz que estas funções não são mais do que manifestações da interacção entre energia e consciência. À medida que começamos a experimentar os corpos internos, a energia e a consciência manifestam-se de uma forma mais subtil. Então o annamaya kosha é a dimensão da existência em que temos a experiência da matéria, que é uma combinação entre energia e consciência.

Pranamaya Kosha

A próxima dimensão de experiência é o pranamaya kosha, o movimento da força vital que direciona as actividades físicas e mentais. Este movimento acontece através das nadis, que são canais condutores de energia. As nadis são controladas pelos seis chakras. O mooladhara chakra controla a eliminação de toxinas acumuladas no corpo e na mente. No processo físico, o que comemos acaba sendo excretado, mas enquanto está dentro do corpo extraímos alimento e energia desse conteúdo. Do mesmo modo existe também um processo de eliminação no processo mental, no entanto, normalmente não entendemos esse processo. Temos a tendência para acumular experiências na forma dos cinco kleshas (causas do sofrimento: ignorância, egoísmo, apego ao prazer, aversão à dor, e medo da morte), começando na ignorância e terminando no medo da morte. Não conseguimos eliminá-los da mente, e retêmo-los sob a forma de experiências. A consciência humana gira em torno dessas memórias e experiências por causa de um outro factor, que é o ego.

Temos de aprender a eliminar o que carregamos na mente e a manter a tranquilidade e calma. Isso pode acontecer quando começamos a trabalhar com o pranamaya kosha. Para compreender  essa libertação interna, temos que trabalhar com o swadhisthana chakra, que representa a mente interior, o subconsciente, o depósito de todas as experiências e memórias. Quando as lembranças e as experiências são guardadas no subconsciente, são conhecidas como samskaras ou impressões. Os samskaras podem ser eliminados ou transformados quando aprendemos a trabalhar com o pranamaya kosha ao nível do swadhisthana chakra.

O dinamismo da mente, a agressividade da nossa personalidade, seja física, mental ou emocional, é controlada pelo manipura chakra. Quando trabalhamos com o manipura chakra, transformamos as energias que se manifestam nesse momento, para eventualmente, termos a experiência de um estado sattvico (equilibrado). O anahata chakra controla a manifestação e projecção de sentimentos e emoções, lida com as qualidades de atracção e repulsa na nossa natureza. O vishuddhi chakra, por trás da garganta, é um centro através do qual aprendemos a interagir no mundo de forma eficiente e criativa. Quando trabalhamos com o vishuddhi chakra, mudamos o nosso ponto de vista, a nossa visão da vida, e há um aumento da criatividade, do positivimismo e optimismo, o que resulta numa melhor comunicação.

O sexto chakra é o ajna, a porta por onde passamos da energia manifestada e da consciência manifestada para a energia e consciência transcendentais não-manifestadas. O ajna chakra permite-nos passar da dimensão manifestada aos aspectos não-manifestados da nossa personalidade. Lidamos com todos os seis chakras quando estamos a tentar gerir o pranamaya kosha.

Manomaya Kosha

Depois do pranamaya kosha, chegamos ao manomaya kosha, a dimensão da consciência mental. Esta dimensão mental é composta por duas qualidades, manas e buddhi. Manas é o pensamento linear, sequencial da mente racional. Buddhi é a qualidade do discernimento que vem depois do conhecimento, depois de ter removido a ignorância. As práticas de pratyahara (interiorização da energia que normalmente dispersamos na esfera sensorial) têm o objectivo da descoberta e compreensão da natureza do manomaya kosha.

A harmonia do manomaya kosha tem de ser alcançada através do equilíbrio do pranamaya kosha. Não podemos dizer que o manomaya é diferente do pranamaya e que o pranamaya é diferente do annamaya; são experiências e condições da vida que não podem ser separadas umas das outras. No entanto, para o nosso entendimento e para definir a sequência de nossa prática, os yogis definiram separadamente as funções do annamaya, pranamaya e manomaya kosha.  (continua…)